Em 2008 instaurou-se a obrigatoriedade de ensino das culturas indígenas e afro-brasileiras na educação básica mas não no ensino superior criando uma lacuna na formação dos professores acerca desses saberes e práticas reforçado pelo racismo institucional ainda hegemonicamente vigente. Para atuar num sentido de sanação dessas dores coloniais no campo das artes cênicas foi criada a MIACAY – II Mostra Indígena de Artes da Cena em Abya Yala: dançar o impossível para mover mundos, amorosamente ativada para artistas-professores e qualquer pessoa que tenha interesse nas tensões e/ou imbricações do que convencionou-se chamar de “culturas indígenas” e “artes do corpo” a partir de uma perspectiva anti-colonial/capitalista.
Toda programação foi disponibilizada gratuitamente e com classificação livre entre os dias 28 de março e 11 de abril de 2022 no canal do YouTube do Grupo Imagens Políticas.
PROGRAMAÇÃO COMPLETA
PROGRAMA 1
⇨ Descatequizar para descolonizar: pistas para o reflorestamento do imaginário de Geni Nuñez (SC)
A colonização não acabou, seus efeitos ainda se fazem sentir na terra, nos seres humanos e não humanos, na forma de pensar, sentir e estar no mundo. Para reparar é preciso antes reconhecer, e nesse encontro discutiremos alguns impactos da colonização do pensamento, profundamente inspirada na moral cristã, no (des)envolvimento com o corpo, sexualidade e outras relações. Através do reconhecimento do sistema de monoculturas (monoteísmo cristão, monogamia e monossexismo) refletiremos sobre modos de reflorestar nosso território-corpo.
Sobre Geni Nuñez
Geni Núñez é ativista indígena, psicóloga, mestre em Psicologia Social e doutoranda no Programa de Pós graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas (UFSC). É membro da Articulação Brasileira de Indígenas Psicólogos/as (ABIPSI) e co-assistente da Comissão Guarani Yvyrupa. Pesquisa branquitude, etnocídio, não monogamia e outras descolonizações.
⇨ La utopía de la mariposa de Lukas Avendaño e Miguel J. Crespo (31′, MX, 2019
Lukas Avedaño é talvez o artista mais importante da comunidade Muxe, o terceiro gênero dos zapotecas. A poesia, a dança e a antropologia são as ferramentas que utiliza para enunciar-se e expressar-se. Desde de 10 de maio de 2018 seu irmão Bruno desapareceu de maneira misteriosa. Encontrá-lo entre os 70 mil desaparecidos no México é, para Lukas, uma utopia.
Sobre Lukas Avedaño
Lukas Avendaño é um artista muxe da performance e antropólogo mexicano. Sua obra se caracteriza pela exploração da identidade sexual, étnica e de gênero.
PROGRAMA 2
⇨ Levanta e luta de Naine Terena (10′, MT, 2021)
Roteiro produzido por Naine Terena sobre a luta contra a PEC 215, na perspectiva da atuação dos encantados. As imagens foram cedidas por pessoas que estiveram entre 15 e 17 de dezembro de 2014 em Brasília (inclusive a própria Naine), trazendo assim pontos de vistas sobre os fatos. Neste vídeo, Naine é personagem ao mesmo tempo em que conduz o espectador à narrativa.
Sobre Naine Terena
É doutora em educação, mestra em artes e graduada em radialismo. É curadora independente, docente na especialização em Gestão Cultural Contemporânea do Instituto Itaú Cultural e professora colaboradora do Programa de Pós-graduação em Ensino em Contexto Indígena da UNEMAT. Atua na Oráculo comunicação, educação e cultura, onde atua com pesquisas, docência em cursos livres, comunicação e execução de projetos.
⇨ Ramo de Rio de Lilly Baniwa e Naiara Alice Bertoli (41′, AM, 2021) Ramo de Rio compartilha os processos, depoimentos e desdobramentos da Oficina Performatividades Identitárias, realizada em 2021 na comunidade indígena de Itacoatiara-Mirim e no centro da cidade de São Gabriel da Cachoeira/AM. Permeado por falas de artistas indígenas que participaram através de vídeos-formativos e que suscitaram inspiração, reflexão e o (re)conhecimento de caminhos já percorridos na arte e no reconhecimento da identidade indígena.
Sobre Lilly Baniwa
Performer e acadêmica indígena de Artes Cênicas na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Dentre os últimos projetos realizados, destaca-se o espetáculo WHAA Nós, entre ela e eu (2022), o vídeo performance manifesto Lithipokoroda (2021) e os curtas Ooni (2021) e Ramo de Rio (2021), ambos resultados da Oficina Performatividades Identitárias, desenvolvidos no município de São Gabriel da Cachoeira/AM.
Sobre Naiara Alice Bertoli
Produtora, atriz, contadora de histórias e arte-educadora. Tem produzido curtas documentais, podcasts, oficinas, montagens teatrais e se dedicado a projetos com os povos originários, principalmente com os Baniwa do noroeste amazônico, e outros projetos de produção e curadoria ligados às políticas afirmativas e às questões étnico-raciais.
PROGRAMA 3
⇨ Uru’Ku de Bárbara Matias (10′, CE, 2021)
Colocar o corpo no curral como um ato de subversão performática contra o projeto de etnocídio e memoricídio. Curral é um enquadramento artesanal feito de varas seca do mato construído pelo nativo a mando do seu Coronél-amém para encurralar os filhos da terra como vaqueiro, com o propósito de aprisionar o gado que chega neste território.Na medida em que o coronelismo nos amansa massacra nossa ancestralidade.
Sobre Bárbara Matias
Barbara Matias é indigena do povo kariri. Artista com urgênciaS, é roteirista, atriz e produtora de cinema, atua no Coletivo Arruaça Escoamento, Coletiva Flecha Lançada Arte, Coletivo Tamain. Bárbara também é liderança jovem indígena e ativista na Aldeia Marrecas e Retomada Kariri Ceará. Atualmente é também estudante de roteiro na Escola Porto Iracema das Artes e doutoranda em Artes da Cena pela UFMG. Autora do livro Pensando a pedagogia do teatro da sala de ensaio para a escola pública (Ed. APPRIS,2020).
⇨ Ñamiajapú dajãrãsa – Mañana volvemos de Corporación Tapioca (45′, CO, 2018)
Ñamiajapú Dajãrãsa é um projeto de dança documental que aborda o fenômeno de migração juvenil indígena para Vaupés, na Amazônia colombiana. A narração oral, o vídeo, o som e o corpo em movimento configuram este arquivo vivo, cuja criação torna-se um pretexto para o encontro e a construção de pontes entre artistas habitantes de Mitú e Bogotá, indígenas e não-indígenas, alteridades e territórios.
Sobre o Corporación Tapioca
O coletivo trabalha com os valores culturais da Orinocoamazonía colombiana através de distintos processos de mediação artística com comunidades. Em seus 12 anos de existência, Tapioca tem desenvolvido processos que vinculam as artes cênicas, as artes visuais, a música e a literatura com territórios, identidades e expressões indígenas contemporâneas.
PROGRAMA 4
⇨ Reflorestamentes de Kerexú Yxapyry (SC)
Kerexú Yxapyry nos conta sobre as relações entre sagrado, corpo, terra, alimento e plantio a partir da perspectiva guarani, e nos convida a reflorestar nossas ações-pensamentos através do cultivo da esperança e da luta coletiva.
Sobre Kerexpu Yxapyry
Kerexpu Yxapyry é uma das lideranças da Terra Indígena Morro dos Cavalos, coordenadora-executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e da Comissão Guarani-Yvyrupá.
⇨ Arreia de Íris e Iara Campos (37′, PE, 2021)
Arreia é uma criação de dança que estreou em formato online. O duo das artistas Íris Campos e Iara Campos tem direção de Paulinho 7 Flexas e traz à cena o imaginário das representações que compõem o Caboclinho a partir do corpo brincador do Caboclinho 7 Flexas do Recife. O enredo constrói relação entre o universo dos sonhos e a criação da Agremiação, construindo uma narrativa que honra a ancestralidade indígena de Íris, Iara e Paulinho, trazendo à tona a
resistência dos povos originários e inserindo novos conceitos de preservação da manifestação.
Sobre Íris Campos
Arte educadora, bailarina, atriz e performer. Licenciada em artes cênicas pela UFPE. Integrante e brincadora do Caboclinho 7 Flexas do Recife desde 2004. Integrante do Grupo Totem. Co criadora, bailarina e atriz da Cia três na Lua. Realiza trabalhos pedagógicos na área da dança e do teatro em instituições de ensino da rede privada e pública do Recife e região metropolitana.
Sobre Iara Campos
Artista da dança e do teatro, arte educadora e produtora cultural. Licenciada em artes cênicas pela UFPE. Integrante e brincadora do Caboclinho 7 Flexas do Recife desde 2004. Artista-criadora independente, desenha sua trajetória em criações próprias e em diversos coletivos do Recife e Região Metropolitana.
FICHA TÉCNICA
Palavras-ações que reflorestam por: Geni Nuñez e Kerexú Yxapyry Artistas: Bárbara Matias, Corporación Tapioca, Íris Campos, Iara Campos, Lilly Baniwa, Lukas Avedaño, Naiara Alice e Naine Terena.
Apresentação e mediação: Juma Pariri
Realização: Grupo Imagens Políticas (CEART/UDESC)
Coordenação do projeto: Fátima Costa de Lima
Idealização, curadoria e pesquisa: Juma Pariri e Paloma Bianchi Consultoria: Paloma Bianchi e Emanuele Weber Mattiello
Produção executiva: Juma Pariri e Paloma Bianchi
Assistência de Produção: Emanuele Weber Mattiello, Escaley Alves (bolsista do projeto) e Yasmin Furtado (bolsista do Grupo de Pesquisa Imagens Políticas)
Identidade Visual e Design Gráfico: Ricardo Goulart
Captação de vídeo: Paloma Bianchi e Juma Pariri
Edição de vídeo e vinheta de abertura: Hedra Rockenbach Tradução e legendagem: Frê Almeida
Vinhetas de abertura e fechamento dos programas produzidas por Hedra Rockenbach a partir do áudio gravado pelo perfil o_ultimo, disponibilizado gratuitamente na plataforma free sounds.
Imagens para composição do material gráfico:Manifestantes derrubam estátua de Cristóvão Colombo na cidade de Barranquilla, Colômbia por Mery Granados (28 jun. 21/Reuters); Educação pela pedra por Frê Almeida (2021).